Anda não fiz as resenhas dos últimos cinco livros que li, mas “Festa no Covil” me surpreendeu tanto que não consegui me segurar. O romance de estréia de Juan Pablo Villalobos tem uma temática que costuma me fisgar, mas confesso que imaginava que o texto poderia cair no clima pesado intrínseco ao assunto e acabar sendo cansativo, massante. 

Narrado pelo filho de um poderoso narcotraficante mexicano, conhecido como “El Rey”, o livro consegue mostrar a intimidade suja deste universo com sutiliza. Sútil, mas ao final um pouco assustador, principalmente quando se imagina que o garoto (Tochtli), narrador-personagem, parece ter no máximo dez anos de idade.

Tochtli vive isolado pela paranóia do pai em seu “palácio” cheio de quartos, com direito à um mini-zoológico nos moldes de Pablo Escobar. Sem mãe e sem amigos, o menino só tem a companhia dos empregados da casa e de seu professor particular. A história toda poderia ser resumida como a narrativa de Tochtli de sua busca por um hipopótamo anão da Libéria. O garoto conta como faz para conseguir seu capricho utilizando as palavras “pulcro, sórdido, nefasto, patético e fulminante” diversas vezes. Palavras que se encaixam perfeitamente em seu mundo limitado.

Apesar de se dizer precoce, machão e tão valente quanto um samurai, o menino também acaba mostrando sua incompreensão diante de seu cotidiano tão peculiar. Assassinatos, armas, muitas jóias, dinheiro, visitas de políticos, pessoas desaparecendo. E ao mesmo tempo que não entende, Tochtli finge participar de tudo com naturalidade através de suas observações e comentários irônicos e suas brincadeiras, colecionando chapéus, vendo filmes, sonhando. De uma inocência fulminante.