Creio que todos que gostam muito
de literatura já experimentaram a frustração de não conseguir levar uma leitura
adiante: você se vê empacado nas mesmas páginas por dias até se dar conta de
que não adianta insistir. A leitura começa a ficar sofrida, sinal de parar.
Passei por essa experiência recentemente
com “A Colher que Desaparece” de Sam Kean. Não-ficção é um dos meus estilos
literários preferidos, falando de história da ciência então, sou fisgada na
hora. Logo na capa do livro está escrito
“E outras histórias reais de loucura, amor e morte a partir dos elementos
químicos”. O que me fez pensar que seria um livro que focaria na parte humana
da história por trás da descoberta dos elementos químicos e da construção da
tabela periódica. No site da editora que lançou a obra no Brasil, a Zahar, há
também uma sinopse que faz o livro parecer ainda mais legal.
Eis que já nas primeiras páginas Sam
me despeja uma tonelada de conteúdo sobre química, que parte está em algum lugar escondido do
meu cérebro de “pessoa de humanas”. De início achei que seria uma ótima
oportunidade para desenterrar essas informações da minha mente e finalmente
conseguir entender, mesmo que superficialmente, conceitos fracos na minha
formação escolar. Tive apenas um professor de química realmente bom, no
primeiro ano do ensino médio, que infelizmente trabalhou com a minha turma por
pouco tempo. Pra quem não nasceu pra “exatas” e teve uma base muito ruim (minha
professora de matemática dos primeiros anos do ensino fundamental era péssima)
ter tido professores de química displicentes não facilitou em nada.
No entanto, Kean não escreveu o
livro para pessoas como eu. Para quem gosta de química o conteúdo abordado pelo
autor pode parecer muito simples. Só que a obra não é vendida como algo para
quem lembra bem das aulas do colégio ou tem formação na área. A descrição feita
para promovê-lo me fez pensar que era algo na linha de “A vida Imortal de
Henrietta Lacks” (de Rebecca Skloot), por exemplo. Ou como “O Imperador de
todos os males – Uma biografia do câncer” (de Siddhartha Mukherjee), livro
também escrito por alguém que não é jornalista e usa de história humana para
falar de um tema tão complexo.
Mesmo com um começo difícil dei
uma chance ao livro pensando que aquilo seria penas uma introdução. Uma forma
de situar melhor os leitores, principalmente aqueles como eu. Porém, Kean só dá
um gostinho do que a obra prometia ser e volta a fazer seu próprio livro (nem
tão) didático de química. Me senti em uma aula de ensino médio que não acabaria
nunca. O texto não é atrativo, é cansativo.
Quando vi que Sam não é jornalista
compreendi um pouco da dificuldade em fazer do assunto algo acessível e sedutor
e em se desprender um pouco das aulas de química. Não que para fazer um bom
livro deste tipo seja imprescindível ser jornalista. Mas é necessário pensar um
pouco como um. É o caso de Siddhartha Mukherjee, médico oncologista. Sua “biografia”
do câncer ganhou um Pulitzer. Ele conseguiu explicar todos os mecanismos
químicos/biológicos do câncer com muita clareza, mesclando as informações mais “técnicas”
com a parte histórica e humana. Era isso que eu esperava de “A Colher que
Desaparece”. O pior é que Kean tem outros livros que prometem a mesma coisa,
com temas muito interessantes. Ainda quero dar uma nova chance ao autor, mas já
não tenho expectativas tão boas.
Caixa de comentário é imã de gente babaca, mas aqui está meu voto de confiança em você! ;)