Não é atoa que este livro ganhou o prêmio Pulitzer. Em "O Imperador de Todos os Males", Siddhartha Mukherjee se compromete a realizar uma biografia do câncer, talvez a doença mais temida pelo ser humano. No entanto, o autor faz muito mais do que dar uma aula de história da ciência e da medicina. O livro é também um relato emocionante da desolação humana diante da morte eminente. Com muita sensibilidade podemos acompanhar histórias de luta, algumas com final feliz, outras não.

Ao contrário do que muitos podem pensar o câncer não é um mau moderno. Registros da doença aparecem na história desde o antigo Egito, onde um escriba fez a triste constatação em um “relatório” sobre um paciente: não há cura.

O livro é extenso, mas flui muito bem, não é uma leitura pesada. A pesquisa realizada pelo autor é impressionante. Já que foi capaz de contar com bons detalhes todo o lento e complicado progresso da medicina e da ciência à respeito do câncer. Um caminho trilha à duras penas, cheio de confusões e tomado pelas vaidades humanas.

É difícil não imaginar o nível de sofrimento que os pacientes de outras épocas passavam. Levando em conta que ainda hoje o câncer segue com uma aura de mistério implacável, que ainda hoje vemos a maioria dos doentes passarem por uma verdadeira via crucis. Um dos pontos desta história que mais me chocou foi o relato sobre as cirurgias radicais para tratar o câncer de mama. Em um tempo em que os médicos chegaram à conclusão de que a melhor forma de lutar contra o mal era extirpar profundamente tudo o que fosse possível da região superior do tórax feminino. Mulheres foram mutiladas agressivamente, ficando deformadas em nome de um pequeno tempo de sobrevida.

Em vez de fazer um mero relato histórico, Siddhartha mostra também o complicado jogo político por trás do avanço científico. Afinal de contas, nada neste mundo se faz sem dinheiro, infelizmente. O que nos mostra que todas as conquistas são frutos não apenas da inteligência e da genialidade, mas principalmente da persistência e da sagacidade estratégica de quem lutou contra a burocracia e interesses meramente financeiros. Mesmo com o peso da doença na sociedade, financiar e apoiar pesquisas contra ela nem sempre despertou muito interesse dos governos.

Um bom exemplo dado pelo autor é briga em torno do grande potencial carcinogênico do cigarro. O que atualmente é de conhecimento geral já foi ridicularizado entre os próprios cientistas. Mesmo com provas, os primeiros a levantar a bandeira antitabagista encontraram resistência inclusive entre seus colegas. E quando a comunidade médica e cientifica finalmente passa a aceitar a existência do perigo, começa uma luta árdua contra uma indústria forte, que movimentava milhões. E essa indústria reagiu com peso.

“O Imperador de Todos os Males” é uma verdadeira aula que esclarece a mente em torno de um dos maiores medos do ser humano moderno. Com ele, você passa a entender, ainda que superficialmente, até mesmo o confuso mecanismo do surgimento e desenvolvimento das células cancerosas. Excelente e obrigatório