A frase mais conhecida de Simone de Beauvoir é, com certeza, “não se nasce mulher, torna-se uma”. Este é o centro da intenção de Caitlin Moran em seu livro. Através de suas experiências pessoais, a autora provoca uma reflexão muito bem humorada deste processo, do “tornar-se” mulher, principalmente questionando o que exatamente isso significa na sociedade atual.

Caitlin sabe usar ironia e sarcasmo de forma inteligente, como boa inglesa que é. Seu texto é leve e direto, cheio de referências e comparações onde utiliza a cultura pop ocidental de 1980 em diante.  O livro é do tipo que poderia ser lido em "uma tacada só”.

Crescer não é fácil, ainda mais em um mundo machista como o nosso. Moran expõe esse processo ao contar os problemas que enfrentou na adolescência até o começo da vida adulta. A autobiografia proporciona a oportunidade de abordar diversos temas do ponto de vista feminista. Família, padrão de beleza, moda, cultura, trabalho, maternidade, sexo e relacionamentos amorosos são analisados pela autora.
Posso dizer que me identifiquei muito com a narrativa e os questionamentos de Caitilin em muitos aspectos. Além de ter dado muitas risadas durante a leitura. Sua trajetória pessoal pode ser bem compreendida por quem vive a realidade brasileira, já que a autora vem de uma família pobre.

 Mas alguns pontos polêmicos podem desagradar. O principal, talvez, é quando afirma que as mulheres não fizeram nada de relevante durante séculos, antes de conseguirmos boa parte dos direitos que temos agora. Ou seja, até meados do século XX. Moran se atrapalha ao explicar essa afirmação e seu sarcasmo, neste caso, não ajuda muito a esclarecer o que ela realmente quer dizer neste trecho. Pelo menos é o que prefiro acreditar, que a autora apenas não soube se explicar. (Uma explicação completa e análise mais crítica deste ponto pode ser lida aqui)

No mais, o mérito de Caitlin é mostrar que o feminismo não é um “bicho de sete cabeças”, como muitos ainda pensam. É extraordinário conseguir falar sobre temas que às vezes assustam tanto, como o aborto por exemplo, de forma tão cativante.