Com a vinda de James Ellroy (escritor norte americano conhecido por livros como “Dália Negra”, obra que virou filme pelas mãos de Brian de Palma)para a FLIP deste ano, me empolguei em procurar livros do gênero policial. Não me lembro de ter lido nenhum dos clássicos das histórias de crimes. Tenho algumas obras no estilo, a última que li foi “Grau 26”, best seller do criador da série televisiva CSI, programa que acompanho.

Decidi começar com aqueles considerados os melhores do gênero. Pensei em Agatha Christie ou Conan Doyle. Mas acabei procurando algo mais contemporâneo, como Ellroy. Foi assim que cheguei em Jim Thompson:

 
Histórias sobre assassinos psicopatas são comuns na ficção, mas e um caso visto sob o olhar do criminoso? Esse é o diferencial mais marcante de “O assassino em mim”, romance escrito pelo norte americano Jim Thompson (1906-1977). A obra é narrada por seu protagonista, o subxerife Lou Ford.

Ford vive em uma pequena cidade do Texas, década de 1950. Uma figura paciente, educada e até mesmo passiva. Um homem exemplar e respeitado. Não há quem não goste de Lou, no máximo poderiam achá-lo lento e um pouco chato. Vive sozinho na casa de seu falecido pai que era médico e o criara sozinho, com um irmão adotivo e a ajuda de uma governanta.

Sua narrativa começa com a chegada de uma prostituta na cidade. Sua função é conhecê-la e julgar se deve ser expulsa do local ou não. De alguma forma a situação é o despertar de um instinto aparentemente adormecido no personagem. O início de uma sequencia de assassinatos.

Ford compartilha com o leitor não só suas ações e o que vê, seus pensamentos e sentimentos são expostos. Muitas vezes sua palavra é dirigida como quem está conversando, falando diretamente com quem lê. Seus atos são apresentados através de uma lógica aparentemente simples e irrefutável. Óbvio para Lou, e para quem acompanha o espanto da naturalidade com que seus crimes são justificados. Você está na mente de um psicopata.

As características condizem com as da psicopatia. Lou Ford é um homem acima de qualquer suspeita e tem o dom de convencer as pessoas do que desejar. Não há remorso, arrependimento. Pelo menos nada que pareça realmente afligi-lo. Um trauma de infância se transforma no motivo de sua conduta cruel. Como o próprio personagem pondera, talvez tenha sido apenas o estopim de sua doença assassina.

O desfecho surpreendente da obra coroa o sucesso da linguagem escolhida por Thompson. Direto e sem rodeios. Frases curtas. Talvez a melhor maneira de transpor a frieza de Ford. Uma história perfeita para ser levada às telas de cinema, lembrando “Onde os fracos não tem vez” (o que foi feito duas vezes: em 1976 e em 2010). E que traz inquietação quando pensamos em quantos “Lou Ford” podem estar ao nosso redor.
21 de março de 2011.