(Resenha do livro "O reino e poder" de Gay Talese que escrevi em 2010)
Mesmo com toda a sua ambição, Adolph Ochs provavelmente não imaginava a proporção que seu novo negócio tomaria dentro da história mundial. O New York Times era um jornalzinho de folhetins românticos em seus primeiros tempos de vida, até que Ochs o comprou.
Uma das empresas de comunicação mais importantes da história, quase um sinônimo de jornalismo, tem sua história contada por Gay Talese. Tido como o principal nome do chamado new journalism, Talese começou sua carreira no Times. Assim como tantos outros grandes nomes que surgiram dentro da redação da Rua 43.
Em “O Reino e o Poder”, Talese mescla sua vivência com uma intensa pesquisa para levar o leitor para dentro das salas do Times, sua redação, suas reuniões. A história do jornal e suas relações com os fatos históricos mais marcantes é levada pelas breves biografias de seus chefes, diretores e repórteres. Os homens que ajudaram na construção da “catedral” de Ochs. Entre essas histórias estão intrigas, desentendimentos, relacionamentos amorosos, mas no final parece sempre prevalecer os valores e princípios instituídos pelo velho Adolph desde o início do Times.
A fidelidade a esses princípios é mostrada como o fator de sustentação do império New York Times, o império Ochs. As profundas raízes do poder do Times, poder que o fez ter nas mãos momentos vitais do país e do mundo. Que fez com que sua cobertura do cotidiano fosse tão marcante quanto a de fatos históricos como a morte do presidente Kennedy. Excelentes profissionais contando tudo que tivesse importância a partir do lema exposto em vários lugares do jornal: “dar as notícias com imparcialidade, sem medo ou favor”.
O poder do jornal, em si, não é o que surpreende na narrativa de Talese. O destaque fica com os Timesmen. E com Talese tendo sido um deles, fica evidente o encanto que seu berço jornalístico ainda produz em suas impressões sobre o Times. Mesmo enfatizando que o jornal era feito por humanos, a insistência em colocar acima de tudo o quanto os veneráveis valores de Ochs prevaleciam é a maior prova da paixão do autor pelo veículo. Esse afeto do autor pelo jornal não pode ser esquecido por quem pretende analisar sua história através de “O Reino e o Poder”.
No final de toda a história é inegável dizer que Gay Talese construiu seu livro, sua versão da trajetória do jornal mais influente do mundo, como se propôs a fazer. Como explica no posfácio escrito em 1992: “eu queria escrever uma história humana de uma instituição em transição, um livro que contaria mais sobre homens que cobrem as notícias do que sobre as notícias que cobrem, uma história factual sobre várias gerações de Timesmen e a interação entre elas, as cenas, os confrontos e ajustes internos que fazem parte da vitalidade e do crescimento de qualquer instituição duradoura”.
0 críticas:
Postar um comentário
Caixa de comentário é imã de gente babaca, mas aqui está meu voto de confiança em você! ;)