A depressão é encarada por muitos como um mal moderno e para maioria é algo confuso do qual não se sabe quase nada. Muito se fala, pouco se sabe. E é dessa falta de informação que nasce o estigma dos que sofrem com a doença, o preconceito e o abuso dos remédios. Por isso o trabalho de Solomon em "O demônio do meio-dia" é tão importante, porque através deste livro ele tenta esclarecer todas as dúvidas sobre a depressão. A obra é uma das mais completas que o público geral pode encontrar, traz todos os aspectos sobre o problema, o pessoal, o científico, o social e o filosófico.

"Na depressão, você não pensa que pôs um véu cinzento e está vendo o mundo através da névoa de um estado de espírito ruim. Você pensa que o véu foi retirado, o véu da felicidade, e que agora está realmente enxergando. Você tenta se agarrar à verdade e destrinchá-la, e acredita que a verdade é a única coisa fixa, mas ela é viva e corre de cá para lá. Você pode exorcizar os demonios dos esquizofrênicos que percebem que há algo estranho dentro deles. Mas é muito mais difícil com gente deprimida, porque nós acreditamos estar vendo a verdade. Mas a verdade mente."

Talvez uma das coisas que dificultam o entendimento da depressão é que ela não segue um padrão específico e restrito, ela se manifesta de diferentes maneiras, mas em todas o sofrimento é o ponto latente. O livro traz depoimentos diversos, incluindo o do próprio autor, para mostrar as diferentes manifestações da doença. Solomon também fala sobre os tratamentos disponíveis, incluindo técnicas alternativas e a influencia dos mais diversos aspectos como religião e alimentação entre outros. A relação conturbada da depressão com o vício em drogas é outro fator discutido, assim como o suicídio, que rende um capítulo polêmico do livro.

"As pessoas neste livro são na maioria fortes ou inteligentes ou resistentes ou se destacam de algum modo. Não acredito que haja uma pessoa média, ou que ao contar uma realidade prototípica se possa transmitir uma verdade abrangente. A busca pelo ser humano não-individual, genérico, é a praga dos livros populares de psicologia. Ao ver quantos tipos de resistência, força e imaginação podem ser encontrados, aprecia-se não apenas o horror da depressão, mas também a complexidade da vitalidade humana. Tive uma conversa com um idoso gravemente deprimido que me disse que 'os deprimidos não têm histórias, não temos nada a dizer'. Todos temos histórias, e os verdadeiros sobreviventes tem histórias interessantes. Na vida real, o ânimo tem que existir em meio à confusão dos brindes, bombas atômicas e campos de trigo."

Solomon destrói brilhantemente alguns mitos sobre a doença mostrando que ela está presente na história da humanidade desde a antiguidade e vem nos acompanhando até hoje sem distinção étnica, geográfica, de gênero, cultural ou social. Ele ainda nos leva ao debate político entorno da prevenção e do tratamento principalmente nos sistemas públicos de saúde.

Porém, o mais importante da obra é conseguir expressar tudo aquilo que aqueles que sofrem com a depressão gostariam de falar e não conseguem. E ainda mais por trazer uma enorme esperança de compreensão e vitalidade. Como o autor explica: "o oposto da depressão não é a felicidade, mas vitalidade".

"O Demônio do Meio-dia - Uma Anatomia da Depressão" já está está entre meus preferidos, é completo, bem estruturado, tem uma linguagem clara e uma delicadeza enorme com um assunto tão "pesado". Todos deveriam ler esta obra, não só os depressivos ou aqueles que convivem com eles, todos.

"O oposto da depressão não é a felicidade, mas a vitalidade, e minha vida, enquanto escrevo isto, é vital, mesmo quando triste. Posse acordar de novo sem minha mente em algum dia do próximo ano: provavelmente ela não ficará por aí o tempo todo. Enquanto isso, porém, descobri o que tenho que chamar de alma, uma parte de mim que eu jamais teria imaginado até o dia, sete anos atrás, em que o inferno veio me visitar de surpresa. É uma descoberta preciosa. Quase todo dia sinto de relance a deses perança, e cada vez que acontece me pergunto se estarei me desestabilizando de novo. Por um instante petrificador aqui e ali, um rápido relâmpago, quero que um carro me atropele e tenho que cerrar os dentes para continuar na calçada até o sinal abrir; ou imagino como seria fácil cortar os pulsos; ou experimento famintamente o metal do cano de uma arma na boca; ou fantasio dormir e jamais acordar de novo. Detesto essas sensações, mas sei que elas me impeliram a olhar a vida de modo mais profundo, a descobrir e agarrar razões para viver. A cada dia, às vezes combativamente e às vezes contra a razão do momento, eu escolho ficar vivo. Isso não é uma rara alegria?"
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